Regresso


Primeiro dia útil do ano. Começa tudo outra vez. Regresso à normal cadência do tempo, à rotina dos movimentos. Arrumo o traje de festa e visto a roupa da normalidade. Roupa quente, diga-se, porque está um frio arrepiante. O céu de nuvens cinzentas e paradas parece-me uma promessa de que vai nevar, o que seria bem provável se vivesse em terra de nevões. Não vai acontecer, mas era bom. A conversa com alguém fez-me lembrar que é tempo de definir objetivos, aproveitando o simbolismo da época. Faço-o todos os finais de ano, disciplinadamente, mas sem lhe dar um valor excessivo (tipo “se consegues és uma lutadora, se não consegues, és uma preguiçosa”), para evitar desilusões ou crises de auto-estima desnecessárias. Mas gosto de desejos, de desejar. Na passagem de ano, à meia-noite, comi as passas e formulei desejos. Nunca consigo a correspondência perfeita uva passa-desejo, porque as badaladas, as felicitações, os abraços e os brindes acabam sempre por me distrair. Normalmente resolvo o problema de um modo que me parece muito eficiente. Há um primeiro momento, solene e tradicional, em que como individualmente três passas, devidamente emparelhadas com o respetivo desejo. Depois, há um segundo momento, mais apressado, em que reúno as restantes uvas na palma da mão e as como de uma vez só, formulando um desejo global. É esta a minha fórmula, tenho tido bons resultados e aconselho-a vivamente a quem sofrer do mesmo mal. Desejos formulados, é preciso recomeçar. Cuidar do ninho e dos meus. Ser sensata e tranquila. Ouvir. Olhar para além de mim e ver. Fazer acontecer. Regressar a casa a pensar que às vezes se pode fazer a diferença no dia de alguém. Que bom que isso é. Feliz ano novo!

Comentários

  1. A necessidade dos desejos como sonhos que nos mantém agarrados a algo que chamamos vida, a vontade da neve, mais que não seja pelo simbolismo da mudança, de que algo mude e a passagem do ano não seja apenas mais um dia em que tudo volta a ser igual ao ano passado. A mudança mora em nós - não no que esperamos dos outros - e se quisermos podemos sempre fazer a diferença para aqueles que contam.

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